quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Dia da Saudade


Daniela pequena na praia
Dannes, num longíquo verão da década de 80, em Rainha do Mar (antes de adotar Capão Novo como sua praia de veraneio favorita no litoral norte gaúcho)

Descobri meio que por acaso que hoje no Brasil é o Dia da Saudade. É claro que isso me fez refletir um pouco sobre as coisas das quais sinto saudade. Mas o que é saudade, afinal? Segundo o Aurélio, saudade é um substantivo feminino que significa lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia. Diante dessa definição, não me surpreende nada que seja um substantivo feminino. Afinal, nós, mulheres, somos mestres nas artes afetivas e a saudade é muito afetiva.
Sinto saudade de muitas coisas. Das páginas em branco dos cadernos novos aguardando a tão esperada volta às aulas, das tardes chuvosas onde me deliciava com os bolinhos de chuva feitos pela minha avó, das aulas de ballet (ah, como sinto saudades!), dos meus amados avós paternos que já se foram, de andar de bicicleta, de todos os amigos que já passaram pela minha vida e tomaram outros rumos, de passear de moto com o meu pai, do sentar no colo do meu avô para assistir televisão (e tirar uma soneca), de assistir filmes de suspense com a minha avó, de jogar canastra com a minha mãe, dos passeios pela serra com minha mãe e minha avó, de todos os meus irmãos quando eram pequenos (e que sorte ter ainda uma irmãzinha linda com três aninhos!), de dormir e acordar ouvindo música quando dividia o quarto com minha tia-irmã, dos tempos do colégio (o João XXIII foi certamente como um segundo lar), dos sonhos de mudar o mundo que eu tinha quando entrei na faculdade de Direito na PUCRS, dos meus quinze anos, dos meus vinte anos, dos meus vinte quilos a menos… Enfim, saudades de muita coisa.
Porém, a saudade maior é da ingenuidade da minha infância. A ingenuidade, no bom sentido, é característica intrínseca de toda e qualquer infância, ou pelo menos deveria ser. É quando temos a vida toda pela frente, o mundo todo para descobrir, os olhos mais atentos e curiosos. É quando corremos, brincamos, cantamos, pintamos sem nos importarmos nem um pouquinho com a opinião alheia.
É por saber a importância dessas coisas que eu tento cultivar ao máximo e nutrir a criança que ainda vive em mim. É por isso que procuro manter a mente e o coração bem abertos. É por isso que amo as artes. De qualquer forma, amadurecer faz com que se perca a poesia para a crueza do mundo. Mas nem por isso é preciso perder a capacidade de encantamento.
O presente me é muito generoso. Eu achava muito chato ser filha única quando era pequena e rezei tanto, mas tanto, que minhas preces foram atendidas e ganhei cinco maravilhosos irmãos. Me considero uma sortuda por ter uma família grande e maravilhosa. Não estou dizendo que seja perfeita porque perfeição não existe, mas é a minha amada família. A vida também me deu outro maravilhoso presente: meu amado marido. E junto com ele ganhei mais uma maravilhosa família, pessoas sinceras, amigas e generosas, de quem sinto muitas saudades porque moram longe. E cinco sobrinhos lindos e sapecas (um deles chega ao mundo agora no início de fevereiro)! Tenho também as afilhadas mais lindas e amadas do mundo (e também os filhos fofos de todos os amigos)! E tenho ainda muitos amigos: amigos de toda uma vida, amigos de longa data, amigos mais recentes, amigos mais próximos, amigos mais distantes, mas todos eles possuem um lugar muito especial na minha vida. Diante de tanta coisa boa que há no presente, fica até feio dizer que tenho saudades do passado. E sei que o futuro reserva outras tantas boas surpresas.
Sim, eu tenho saudades e valorizo o passado. Mas vivo muito bem com o presente e aguardo com alegria o futuro.
Dannes, 30 de janeiro de 2013