Eu já compartilhei a minha dificuldade, incapacidade, inabilidade para dizer adeus (aqui): não aprendi e possivelmente jamais aprenda.
A minha primeira perda, do meu avô paterno, em outubro do ano passado, foi bastante difícil. Doeu, mas, é claro, acabei sobrevivendo. Todos nós sofremos, lamentamos, mas sobrevivemos, não é mesmo?
Sábado passado, dia 21 de julho, sofri mais uma perda: minha avó paterna. Nove meses após perder o marido, seu companheiro de 67 (sessenta e sete) anos de vida conjugal, minha avó Diva não resistiu e nos deixou. Uma perda inesperada, pois no dia 08 de julho, no aniversário da minha irmã caçula, estivemos todos juntos, eu a servi a repetição do bolo e ela estava bem. Tinha suas dores, especialmente suas feridas emocionais, sobre as quais nos confidenciou, mas estava bem. Tinha problemas de saúde, decorrentes da idade avançada de 82 anos, a pressão estava elevada, mas vinha sendo medicada e estava sob controle, tanto que não foi esse o motivo de sua partida. Foi o coração que fraquejou e não resistiu.
No meio da minha dor, da minha total falta de aceitação, a vida me lembrou novamente de que não somos nada. Não importa o que façamos nessa vida, que pretensões tenhamos, o que possamos construir, o fim chega para todos nós inevitavelmente. A morte é uma visita indesejada da qual ninguém pode fugir.
Eu agradeço todas as boas lembranças que tenho da minha avó e do meu avô paterno, especialmente dos domingos da minha infância em São Leopoldo. Tenho um pedacinho de cada um deles dentro de mim e sempre os levarei no meu coração. Agradeço ter convivido mais com a minha avó nos últimos tempos e ter tido a oportunidade de abraçá-la, beijá-la, oferecer a ela um singelo pedaço de bolo poucos dias antes de sua partida. Tudo o que eu gostaria é que ela não tivesse deixado esse mundo com as dores que trazia no seu coração, pois ela não era merecedora delas. Infelizmente, não podemos proteger as pessoas que amamos de suas dores, da brutalidade do mundo e da vida, da indelicadeza de outros seres humanos. Se eu pudesse, teria feito.
Hoje é dia dos avós e eu tenho dois no céu e dois na terra. E os amo muito. Lamento por ter convivido menos com os meus avós paternos devido ao fluxo da vida e a morarem em outra cidade, mas sempre os amei e respeitei. E hoje eles são os meus anjos no céu. Meus avós maternos, que me criaram e que são como pai e mãe para mim (sou muito sortuda por ter tido dois pais e duas mães nessa vida!), são meus dois anjos na terra. Minha homenagem hoje é para todos eles, mas especialmente para os meus anjos no céu que deixaram saudades.
Os anjos no céu devem estar encantados. Meu avô Arnaldo certamente está cantando e minha avó Diva está espalhando toda a sua doçura!
Enquanto isso, eu sigo aqui, tendo ainda o privilégio de desfrutar da companhia e sabedoria dos meus avós maternos, Gezerino e Erciliany, ao que sou profundamente grata.
Vou lambendo as minhas feridas, tratando as minhas dores, e também celebrando a vida, sentindo alegria e gratidão a cada novo dia, tentando oferecer sempre o melhor de mim, pois nunca sabemos quando teremos que dizer adeus…
Arnaldo e Diva, Gezerino e Erciliany, sou muito agradecida por ter a honra de ser neta de vocês.
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E, disso tudo, resta a questão filosófica: é a morte que dá sentido à vida ou é a morte que tira todo o sentido da vida?