quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sol, mar, sal e amor

Ele carioca. Ela gaúcha. Se conheceram no trabalho. Em Porto Alegre. Ele se apaixonou à primeira vista. Ela precisou de um pouco mais de tempo. Entre as afinidades, ambos não gostavam de frio. Muito menos do rigoroso frio gaúcho. Ele sonhava em morar em Cabo Frio, perto do mar. Tinha medo de que ela não quisesse ir pois sabia o quanto ela gostava de morar na capital gaúcha. Porém, contava a ela sobre todos os encantos da cidade litorânea: a brisa do mar, o sol sempre a brilhar, a vida leve. Ela foi se convencendo. Sonhou junto com ele imaginando essa vida paradisíaca. Foram transferidos, fizeram a mudança, compraram casa, se estabeleceram. A vida ia sendo embalada pela brisa. Até que uma noite, ao som de uma chuvinha leve, assistiam a um filme na televisão aberta. Na cena final, faltou luz. Ele estourou, revoltadíssimo. Discursou, gritou, xingou até não mais poder. Ela quieta, observando, surpresa, boquiaberta.

Ela: Amor, você não acha que está reagindo exageradamente? Será que é tão importante assim o fato de ter faltado luz na cena final do filme? Você não acha que está exagerando?

Seguiram-se alguns segundos de silêncio... Só se ouvia a chuva lá fora.

Ele: E você já reparou a droga de cidade em que estamos vivendo?

Um silêncio estarrecedor precedeu o riso que correu solto quando ela entendeu. Ele vinha guardando um descontentamento com uma série de coisas que a cidade não oferecia, com uma série de ausências que ele julgava importantes e que só teve conhecimento quando tornou o sonho em realidade. Ele não podia compartilhar esse sentimento com ela. Afinal, ele a tinha convencido a se mudar e ela o seguira por amor. Como ele poderia confidenciar que talvez morar lá não fosse tudo o que ele sonhava? Foi ela, então, que dividiu com ele um sentimento. Já estava apaixonada por Cabo Frio. Concordava com as ausências que ele sentia. Ela também as sentia. No entanto, eram ausências que poderiam ser relevadas, pois a vida estava repleta de presenças: de sol, de mar, de sal, de amor.

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Escrito em Porto Alegre, em 20 de dezembro de 2013, em homenagem a um queridíssimo casal de amigos, Luiz e Liege, de quem obtive aprovação para publicação. Muito amor para vocês sempre!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Post It: Héctor Abad

 

“Se você quiser que seu filho seja bom, faça-o feliz. Se quiser que ele seja melhor, faça-o mais feliz ainda. Nós fazemos nossos filhos felizes para que eles sejam bons e para que, depois, essa bondade aumente sua felicidade.”

A ausência que seremos, de Héctor Abad (na verdade, trata-se de uma citação de autoria de seu pai, Héctor Abad Gómez, oriunda de um caderno anotações que foram reunidas sob o título de Manual de Tolerância, postumamente).

Post It: Galeano

 

“Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro.”

Cinco Mulheres, Eduardo Galeano

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

2013 - O ano da faxina

No início deste ano, uma amiga comentou comigo que esse seria o ano da faxina. Ela tinha lido em algum artigo de previsões astrológicas. A princípio, achei uma coisa meio boba, mas conforme tenho vivenciado esse difícil ano, percebo que, pelo menos dessa vez, a astrologia estava correta. Sim, porque o ano está sendo muito difícil, mas muito difícil mesmo. No entanto, a faxina vem sendo realizada. Entenda-se por faxina retirar da sua vida tudo aquilo que não valha a pena, inclusive as pessoas que não valem a pena. Uma verdadeira faxina mesmo! Ou uma grande triagem que permite que se mantenha na sua vida somente o que vale a pena. Como você preferir.

A minha filosofia, desde sempre, é a de não gastar nem tempo e nem energia com o que não vale a pena, inclusive pessoas. Creio que já falei disso por aqui. Você tem direito de querer na sua vida somente o que lhe faz bem, o que soma, o que agrega, inclusive pessoas. Você tem todo o direito de retirar da sua vida pessoas que não somam e que não agregam. Quando a pessoa em questão é alguém de quem você gosta (ou melhor, gostava), esse processo pode ser um pouco sofrido, mas, acredite, é necessário e você se sentirá muito melhor sem essa energia ruim (ou estagnada) pairando no ar.

As pessoas nem sempre tem as mesmas trajetórias, nem sempre tem as mesmas lições a serem aprendidas, nem sempre tem as mesmas vivências e experiências a serem compartilhadas e nem sempre compartilham dos mesmos valores que você. A vida é assim. E pronto. Sem drama. O melhor que há na vida é poder simplificar. E é justamente por isso que simplesmente retiro da minha vida tudo o que não vale a pena. E somente eu posso avaliar o que (ou quem) vale ou não a pena para mim. Simples assim.

Eu só quero na minha vida coisas e pessoas que somem, que agreguem, que sejam merecedoras de estar e fazer parte da minha vida. Dos demais, quero distância. Sou assim e sempre serei. Não tem lágrimas e nem coração mole comigo. Não se trata de ser radical ou inflexível, sou apenas realista e objetiva. E nem os laços de sangue são imunes, pois não basta ter o mesmo sangue. Para ser minha família, é preciso ter caráter. E moral. É isso, ou adeus. Parta, vá para longe, me deixe em paz.

Muitas pessoas tem dificuldade de lidar com essa minha filosofia de vida. Sinto muito por elas. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é, já dizia Caetano.

Em um ano difícil como 2013, fica muito fácil colocar em prática minha filosofia de vida, pois são nos momentos de dificuldade que conhecemos realmente as pessoas. As pessoas se revelam diante das dificuldades. Eu diria que as dificuldades mostram, revelam e/ou despertam o pior ou o melhor das pessoas. Depende de cada um. Sim, porque eu acredito que somos totalmente responsáveis por nossas escolhas e nossas ações. E, assim, devemos ser capazes de arcar com o custo de nossas escolhas e de nossas ações, seja qual for.

Em suma, a vida é feita de escolhas, você é responsável por suas escolhas, simplifique, seja objetivo, viva leve sem carregar o peso desnecessário de tudo aquilo que não vale a pena e seja feliz! 2014 será um ano melhor! Com certeza!

sábado, 26 de outubro de 2013

Um breve F5

Eu ando sumida do blog. Este ano, minha vida teve uma grande reviravolta. Minha amada avó materna sofreu um AVC em maio, e, infelizmente, ficou com muitas seqüelas importantes. Meu avô paterno, a quem minha avó cuidava, e que sofre do Mal de Alzheimer, teve um agravamento no quadro da doença. Eles são como mãe e pai para mim, pois me criaram desde bebê de colo até os meus dez anos de idade. Eu os amo muito, eles me ensinaram tudo o que eu sei e eu tenho estado envolvida nos cuidados com eles desde então. Felizmente, o pior já passou, mas é muito triste ver quem a gente ama sofrer. É uma dor dilacerante e uma sensação horrível de impotência. Porém, é preciso ser forte e seguir em frente sem desanimar, pois eles precisam de mim. Felizmente, também, conto com a ajuda da minha mãe, da minha tia e do meu tio mais novo, bem como de seus cônjuges. E, evidentemente, com a ajuda inestimável e incondicional do meu amado marido que mostra diariamente ser um verdadeiro companheiro e parceiro.

É o ciclo da vida: cuidar de quem cuidava de mim. E é impressionante como descobrimos uma força que nem sabíamos que tínhamos. Enfim, ambos estão precisando dos meus cuidados e eu os cuido com muito zelo, amor e dedicação, retribuindo todo o zelo, amor e dedicação que sempre tiveram comigo. E, lembrando o belíssimo texto de Carpinejar (leia aqui), eu posso dizer com orgulho e felicidade: eu estou aqui! E sempre estarei.

Tenho compartilhado as vivências e sentimentos sobre o que está acontecendo no meu perfil do Facebook por ser um canal mais imediato e também por ser um canal mais restrito. Mas senti que devia alguma breve explicação sobre a minha ausência por aqui… Para aqueles que lerem, peço que enviem ou sigam enviando boas energias e preces para que os meus amados avós sigam bem e tenham boa saúde porque eles merecem apenas o melhor.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Que grande tolice é a vida…

Que grande tolice é a vida... Não é justa e não faz o menor sentido. Que dor dilacerante sinto vendo sofrer quem tanto amo. É como se me cortassem a carne. É como se me rasgassem a alma. Uma ferida enorme que me transforma e que jamais permitirá que eu seja a mesma de antes. Se existe Deus, como ele pode permitir que uma pessoa tão iluminada, tão bondosa, tão generosa, tão caridosa, tão amorosa, tão pacífica, tão especial como minha vó sofra dessa maneira? Onde está esse Deus que ela sempre seguiu, honrou e venerou? Onde está Nossa Senhora, a Virgem Santíssima, que mais do que ninguém deveria proteger minha vó que é a melhor e mais amorosa mãe do mundo? Juro que tento manter a fé. Não sei se em Deus mas em uma energia superior que move o universo. Que seja dado o nome que se queira dar, não importa. Deve existir algo maior que nós. Rogo a essa energia superior, tenha o nome que tiver, que seja Deus, rogo que não permita que minha amada vó sofra. Ela não merece. Sim, sempre acreditei que nada nessa vida é por acaso e que tudo tem um propósito. Fico pensando, pensando, pensando, tentando entender o incompreensível e a única possibilidade que avisto para tal propósito é que minha vó, justamente por ser uma alma tão pura, tão generosa, tão bondosa, tão caridosa e tão amorosa, tenha escolhido passar por esse sofrimento para, mestra que é, ensinar uma lição a algumas pessoas próximas que necessitam desse ensinamento e que, certa e infelizmente, não o aprenderão pois assim o demonstram diariamente em suas atitudes e discursos. O amor que sinto por ela é imenso, incondicional e infinito e não permite que ela sofra. Seria egoísmo de minha parte e ela nunca me ensinou a ser egoísta. Devo a ela tudo o que sou, tudo o que sei. Me sinto despedaçada ao vê-la assim tão fragilizada. Ela sempre foi alegre, feliz, comunicativa, amorosa, ativa, nosso núcleo, nosso exemplo. Soube viver a vida, sempre se doando a quem dela necessitasse, sempre com um sorriso aberto no rosto. Nunca a vi reclamar mesmo diante da maior adversidade. Sempre aceitou de bom grado todos os desafios e soube deles tirar o melhor proveito. Sempre viveu nos ensinando. Sempre teve as palavras e os gestos certos para cada momento. Minha mestra, meu amor maior. Aqui estou, ao teu lado, como sempre estive. Porém, invertemos os papéis, hoje quem cuida de ti sou eu com a mesma dedicação e amor que tu cuidavas de mim quando eu era um ser pequenino. Cuido de ti com muito amor, muita gratidão, muita satisfação e muito orgulho. Sempre estarei contigo independente de onde estejamos porque eu e tu somos a mesma carne, a mesma alma, a mesma energia, o mesmo amor. Cuido do meu amado avô com o mesmo carinho e amor. Meus amados avós que tanto me ensinaram nessa vida, que tanto cuidaram de mim. Meus amados avós cujas mãos e pés me guiaram e me mostraram o caminho. Que me ensinaram e, mais do que isso, me mostraram o significado das palavras mais belas: amor, família, bondade, humildade, apoio, união, cuidado, zelo, amizade. Sempre estarei com vocês. O elo que possuímos é só nosso, é muito forte e especial porque é fruto do verdadeiro amor. É o nosso tesouro. É incomparável. E é essa ligação tão pura e bela que me conforta e me dá forças. Erciliany e Gezerino, agradeço por tudo, por todos os ensinamentos, por todo o nosso amor. Dói demais vê-los tão fragilizados, tão dependentes, mas vocês sempre terão o meu e o nosso amor.

sábado, 30 de março de 2013

Perda

O  mundo não mais me pertencia

E era difícil aceitar

Todas as paisagens não admiradas

Todos os livros não lidos

Todos os amores não experimentados

Todas as músicas não ouvidas

Todos os sabores não degustados

Todos os filmes não assistidos

Toda a existência me fora roubada

Injustiçada, mirava com receio o desconhecido

E o que me aguardava

Nada mais poderia fazer

Nada mais sentia ou pensava

Que triste é a finitude

 

09/08/2012

Ela estava perdida em seus pensamentos. Tão perdida que não sabia em que confiar. Memórias próprias, memórias alheias. Segredos, confidências, mentiras. O que era verdade e o que fora ilusão. Crença e decepção. E a certeza de que era preciso continuar. Mesmo que em vão.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Estranho

Quanto mais te aproximas, menos te reconheço

Não há nada em teu olhar que remeta ao brilho do passado

Não há em tuas mãos o menor sinal do antigo vigor

E na face envergonhada mal carregas um tímido sorriso

O que teria te acontecido?

Onde terias perdido o senso?

Por que terias vendido a alma?

Ou fui eu que nunca te conheci?

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Apoiando o The Nu Project

Já falei sobre o The Nu Project aqui, um projeto muito bacana que se dispõe a mostrar a beleza em todas as formas do casal de fotógrafos Matt Blum e Katty Kessler. Mulheres comuns, inclusive brasileiras, posam nuas para as lentes dos fotógrafos. Pois agora eles estão arrecadando fundos para a publicação do livro contendo as belas imagens capturadas ao redor do mundo, através do Kickstarter.

Como eu apoio o projeto e o conceito envolvido, como vocês já devem ter percebido pelo texto publicado anteriormente, fiz questão de contribuir. E divulgo aqui no blog para que você também possa contribuir! Assista o vídeo e depois clique aqui para fazer a sua parte!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sonhando junto…

Achei a história inspiradora. Um exemplo de determinação, garra, superação. Emocionante! E, para ajudar o Ariel a realizar seu maior sonho, resolvi compartilhar o vídeo no Facebook, no Twitter e, agora, no blog. Afinal, sonho que se sonha junto é realidade!

#VEMSEANPENN

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Dia da Saudade


Daniela pequena na praia
Dannes, num longíquo verão da década de 80, em Rainha do Mar (antes de adotar Capão Novo como sua praia de veraneio favorita no litoral norte gaúcho)

Descobri meio que por acaso que hoje no Brasil é o Dia da Saudade. É claro que isso me fez refletir um pouco sobre as coisas das quais sinto saudade. Mas o que é saudade, afinal? Segundo o Aurélio, saudade é um substantivo feminino que significa lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia. Diante dessa definição, não me surpreende nada que seja um substantivo feminino. Afinal, nós, mulheres, somos mestres nas artes afetivas e a saudade é muito afetiva.
Sinto saudade de muitas coisas. Das páginas em branco dos cadernos novos aguardando a tão esperada volta às aulas, das tardes chuvosas onde me deliciava com os bolinhos de chuva feitos pela minha avó, das aulas de ballet (ah, como sinto saudades!), dos meus amados avós paternos que já se foram, de andar de bicicleta, de todos os amigos que já passaram pela minha vida e tomaram outros rumos, de passear de moto com o meu pai, do sentar no colo do meu avô para assistir televisão (e tirar uma soneca), de assistir filmes de suspense com a minha avó, de jogar canastra com a minha mãe, dos passeios pela serra com minha mãe e minha avó, de todos os meus irmãos quando eram pequenos (e que sorte ter ainda uma irmãzinha linda com três aninhos!), de dormir e acordar ouvindo música quando dividia o quarto com minha tia-irmã, dos tempos do colégio (o João XXIII foi certamente como um segundo lar), dos sonhos de mudar o mundo que eu tinha quando entrei na faculdade de Direito na PUCRS, dos meus quinze anos, dos meus vinte anos, dos meus vinte quilos a menos… Enfim, saudades de muita coisa.
Porém, a saudade maior é da ingenuidade da minha infância. A ingenuidade, no bom sentido, é característica intrínseca de toda e qualquer infância, ou pelo menos deveria ser. É quando temos a vida toda pela frente, o mundo todo para descobrir, os olhos mais atentos e curiosos. É quando corremos, brincamos, cantamos, pintamos sem nos importarmos nem um pouquinho com a opinião alheia.
É por saber a importância dessas coisas que eu tento cultivar ao máximo e nutrir a criança que ainda vive em mim. É por isso que procuro manter a mente e o coração bem abertos. É por isso que amo as artes. De qualquer forma, amadurecer faz com que se perca a poesia para a crueza do mundo. Mas nem por isso é preciso perder a capacidade de encantamento.
O presente me é muito generoso. Eu achava muito chato ser filha única quando era pequena e rezei tanto, mas tanto, que minhas preces foram atendidas e ganhei cinco maravilhosos irmãos. Me considero uma sortuda por ter uma família grande e maravilhosa. Não estou dizendo que seja perfeita porque perfeição não existe, mas é a minha amada família. A vida também me deu outro maravilhoso presente: meu amado marido. E junto com ele ganhei mais uma maravilhosa família, pessoas sinceras, amigas e generosas, de quem sinto muitas saudades porque moram longe. E cinco sobrinhos lindos e sapecas (um deles chega ao mundo agora no início de fevereiro)! Tenho também as afilhadas mais lindas e amadas do mundo (e também os filhos fofos de todos os amigos)! E tenho ainda muitos amigos: amigos de toda uma vida, amigos de longa data, amigos mais recentes, amigos mais próximos, amigos mais distantes, mas todos eles possuem um lugar muito especial na minha vida. Diante de tanta coisa boa que há no presente, fica até feio dizer que tenho saudades do passado. E sei que o futuro reserva outras tantas boas surpresas.
Sim, eu tenho saudades e valorizo o passado. Mas vivo muito bem com o presente e aguardo com alegria o futuro.
Dannes, 30 de janeiro de 2013