Ele carioca. Ela gaúcha. Se conheceram no trabalho. Em Porto Alegre. Ele se apaixonou à primeira vista. Ela precisou de um pouco mais de tempo. Entre as afinidades, ambos não gostavam de frio. Muito menos do rigoroso frio gaúcho. Ele sonhava em morar em Cabo Frio, perto do mar. Tinha medo de que ela não quisesse ir pois sabia o quanto ela gostava de morar na capital gaúcha. Porém, contava a ela sobre todos os encantos da cidade litorânea: a brisa do mar, o sol sempre a brilhar, a vida leve. Ela foi se convencendo. Sonhou junto com ele imaginando essa vida paradisíaca. Foram transferidos, fizeram a mudança, compraram casa, se estabeleceram. A vida ia sendo embalada pela brisa. Até que uma noite, ao som de uma chuvinha leve, assistiam a um filme na televisão aberta. Na cena final, faltou luz. Ele estourou, revoltadíssimo. Discursou, gritou, xingou até não mais poder. Ela quieta, observando, surpresa, boquiaberta.
Ela: Amor, você não acha que está reagindo exageradamente? Será que é tão importante assim o fato de ter faltado luz na cena final do filme? Você não acha que está exagerando?
Seguiram-se alguns segundos de silêncio... Só se ouvia a chuva lá fora.
Ele: E você já reparou a droga de cidade em que estamos vivendo?
Um silêncio estarrecedor precedeu o riso que correu solto quando ela entendeu. Ele vinha guardando um descontentamento com uma série de coisas que a cidade não oferecia, com uma série de ausências que ele julgava importantes e que só teve conhecimento quando tornou o sonho em realidade. Ele não podia compartilhar esse sentimento com ela. Afinal, ele a tinha convencido a se mudar e ela o seguira por amor. Como ele poderia confidenciar que talvez morar lá não fosse tudo o que ele sonhava? Foi ela, então, que dividiu com ele um sentimento. Já estava apaixonada por Cabo Frio. Concordava com as ausências que ele sentia. Ela também as sentia. No entanto, eram ausências que poderiam ser relevadas, pois a vida estava repleta de presenças: de sol, de mar, de sal, de amor.
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Escrito em Porto Alegre, em 20 de dezembro de 2013, em homenagem a um queridíssimo casal de amigos, Luiz e Liege, de quem obtive aprovação para publicação. Muito amor para vocês sempre!
Dani, querida
ResponderExcluirTu nem imaginas o quanto me fizestes feliz com este presente!
O teu olhar terno para a nossa historia dä um toque cor de rosa para o nosso amor!
Um beijo e Parabéns pela sensibilidade.