Há 123 anos, mais precisamente em 13 de junho de 1888, nascia em Lisboa, Fernando Antonio Nogueira Pessoa, ou simplesmente Fernando Pessoa, escritor e poeta.
Fernando Pessoa nos deixou como legado vasta obra, produzida muitas vezes sob heterônimos. Diferentemente dos pseudôminos, Pessoa criava personalidades poéticas complexas, identidades falsas que acabavam por se tornar “verdadeiras” através de sua arte. Pessoa criava todo um personagem com uma história de vida própria. Entre seus heterônimos mais famosos estão Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.
Como uma pequena homenagem, transcrevo aqui um dos poemas que considero mais belos, assinado por Ricardo Reis, uma das muitas facetas de Pessoa.
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa e não estamos de mãos enlaçadas
(Enlacemos as mãos)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida passa
E não fica, nada deixa e nunca regressa
Vai para um mar muito longe, pára ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio
Mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, e sempre iria ter ao mar
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as no colo
E que o seu perfume suavize o momento
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada
Pagãos inocentes da decadência
Ao menos se for sombra antes lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova
Porque nunca nos enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim à beira do rio
Pagã triste e com flores no regaço