O espetáculo a que assisti hoje faz parte da programação do 18º Porto Alegre Em Cena e é absolutamente indescritível. Porém, vou tentar expressar em palavras um pouco do que senti presenciando tamanha beleza. Preciso dizer que o espetáculo me fez rir e também me levou às lágrimas e, por fim, saí do Teatro do Bourbon Country sem palavras.
Os bailarinos da companhia belga Les Ballets C de la B são muito competentes e talentosos. Técnica, expressão corporal, desenvoltura e presença de palco que merecem ser ovacionados.
Alain Platel, coreógrafo da companhia, presta homenagem à grande Pina Bausch. Eu diria que, em alguns momentos isolados da coreografia, sentimos e reconhecemos Pina, mas a homenagem reside na irreverência. Sim, irreverência é uma ótima palavra para esse espétaculo. E, para mim, a maior contribuição de Pina para a dança contemporânea é exatamente a irreverência. A irreverência pode ser leve e sutil ou visceral e tensa, mas sempre é bela.
Há pouco, li uma crítica que afirma que o espetáculo está descontextualizado da obra de Pina porque, nela, há suavidade e, na obra de Platel, há nervosismo. Eu, sinceramente, apesar de entender esse ponto de vista, não fiz essa leitura. Para mim, o espetáculo é visceral, explora a condição humana, a animaliza, e mesmo a banaliza (ou ridiculariza?).
Há momentos belíssimos na coreografia, momentos que podem ser traduzidos no reconhecimento da espécie humana, na identificação e aproximação entre as pessoas, no exibicionismo, na submissão, na euforia, na alienação, na solidão, no convulsionamento do mundo contemporâneo.
O espetáculo guarda muitas surpresas à platéia, algumas mais explícitas que outras, e também por isso merece elogios. Não caberia revelá-las, pois ainda resta uma apresentação a ser realizada amanhã.
Há muito tempo que um espetáculo de dança não me tocava tão fundo, embora eu tenha assistido a excelentes espetáculos. Há muito tempo, eu não vertia lágrimas na platéia de um espetáculo de dança. Para mim, vai ser difícil que outra atração do festival seja melhor que essa.
Platel conseguiu me convencer em sua homenagem à Pina, trouxe a força avassaladora de suas coreografias, a beleza crua das imagens e muita irreverência. Inovando, questionando, refletindo, em busca. Exatamente como Pina.
Arte em estado puro!
PS: Trilha sonora também merece elogios. Só ouvir Aisha – Khaled já vale a pena!
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